Berna, 2 julho 1946
Tania, querida:
Recebi agora sua carta datada de 26 de junho. Com certeza a falta de notícias de que você fala vem mesmo de nosso passeio em Paris. Mas já escrevi várias cartas depois disso. Elisa diz que vocês vão usar a mala oficial. Acho que não vale a pena. Eu não recebo cartas porque vocês não escrevem, apenas. Porque quando escrevem acontece como agora: recebi sua carta em seis dias. Diante da vida ocupada que você leva não me animo a exigir mais. Porém fique sabendo, querida, que estou muito isolada, que receber carta é ainda o que espero na Suíça. – Ao mesmo tempo que sua carta, recebi uma da editora Agir; do Rubens Porto. Ele me diz (e acrescenta que é confidencial, não sei porque) que dos 3.000 exemplares (!) já foram vendidos 1.642. E quanto ao primeiro livro, diz: não seria aconselhável lançar já a reedição. E pede minha aquiescência. Escrevi dizendo que naturalmente concordo, mas que gostaria de saber dos motivos. E digo a ele que suponho que a prudência dele vem do fato dele ter observado o silêncio da crítica em relação ao Lustre. E digo que espero resposta dele me dizendo os motivos. (Peço-lhe que, se por um acaso, você estiver com ele não fale nos 3.000 exemplares). Realmente a crítica tem sido pouca em relação ao primeiro. Ninguém me escreve a respeito; porque saber de opiniões vale às vezes como ler críticas. Eu gostaria de saber o que há a respeito. Mas sei que você não pode me informar nada. Talvez o Ari de Andrade (O poeta e jornalista Ari de Andrade era colaborador da revista Vamos Lêr!.) possa. Tania, querida, não esqueça nem adie pôr dentro dos envelopes alguma nota sobre o livro. Estou bastante desanimada e como sei sofrer por tudo, sofro por isso também, o que é uma vergonha.
De amanhã em diante vamos aprender tênis, para fazer um esporte. O tênis fica ligado com uma piscina onde tomaremos banho. É um esforço que eu faço para viver. Meu impulso de todos os momentos é ir embora. Não tenho nenhum ânimo para trabalhar. Minha luta de todos os instantes que Deus me dá é contra o meu negativismo. Me escreva alguma palavra de amizade e esperança, meu amor.
Fiquei alegríssima com a idéia da Marcinha banguela… flor banguela eu nunca vi. Acho muita graça no fato dela ser um pouco vadia… Tania, querida, tenha paciência com a Marcia, não se irrite com ela, não brigue com ela. Você diz a história da penicilina. Por que não começa logo? Não vejo motivo para adiar. Estou surpreendida no fato da viagem de William não estar dando resultados. Talvez você esteja se apressando um pouco. É preciso aguardar.
Minha querida, Deus te abençoe, te dê saúde e felicidade. E me faça ir depressa para o Brasil. Eu te abraço muito.
Clarice
Eu noto uma coisa: Elisa escreve e dá a carta a você e só vários dias depois você acrescenta a sua e põe no correio. A culpa então é sua, quanto à raridade com que recebo. Ou talvez eu esteja exagerando: porque espero carta diariamente…