Nota 11

A moça tinha ombros curvos como os de uma cerzideira. Aprendera em pequena a cerzir. Ela se realizaria muito mais se se desse ao delicado labor de restaurar fios, quem sabe se de seda. Ou de luxo: cetim bem brilhoso, um beijo de almas. Cerzideirinha mosquito. Carregar em costas de formiga um grão de açúcar. Ela era de leve como uma idiota, só que não o era. Não sabia que era infeliz. É porque ela acreditava. Em quê? Em vós, mas não é preciso acreditar em alguém ou em alguma coisa — basta acreditar. Isso lhe dava às vezes estado de graça. Nunca perdera a fé.”

Nota usada no 61º parágrafo de A hora da estrela. As caligrafias são de Clarice e de Olga Borelli (observação entre parênteses, ao alto, à esquerda).