Robert Moraes, Eliane. A escuridão na escuridão. IMS Clarice Lispector, 2024. Disponível em: https://site.claricelispector.ims.com.br/2024/05/16/a-escuridao-na-escuridao/. Acesso em: 21 dezembro 2024.
Escuridão é uma palavra oca e nunca se sabe bem o que cabe dentro dela. De tal forma suas dimensões são indeterminadas que talvez se possa dizer até mesmo que nela cabe tudo e não cabe nada, pois, sendo um imenso celeiro de paradoxos, ao vazio primordial que a caracteriza soma-se imediatamente a qualidade equívoca da desmedida. Atributos que, assim pactuados, ganham particular densidade quando lavrados pelas mãos da autora de A maçã no escuro.
É digna de nota a passagem desse romance em que o protagonista se declara aliviado “por ter escapado da oca escuridão”, já que isso ocorre quando ele se dá conta da trama absurda que a “perfeita escuridão” precipita com seus infindáveis disparates: “sentia-se elementarmente protegido pela escuridão, apesar de que era a própria escuridão o que mais o assustava”. Acontece que, no mais das vezes, Martim circula pelo conturbado reino do caos e, se este decididamente se impõe a ele como uma ameaça, é também dessa “profundeza de séculos de medo e de desamparo” que lhe surge uma força nova e inesperada: “um homem no escuro era um criador”. (LISPECTOR, 2020, p. 835, 871, 877)
A capacidade de habitar ao mesmo tempo o vazio e a desmedida descreve uma disposição das mais correntes entre os personagens claricianos e, não raro, ela se expressa por meio de uma intensa sintonia com o domínio da escuridão. Não deixa de surpreender, portanto, que essa palavra repetida incontáveis vezes na ficção da escritora careça de qualquer elucidação, por mínima que seja, ao longo de suas igualmente incontáveis páginas. Aliás, trata-se aí de mais um paradoxo, pois, quanto mais o significante escuridão se faz presente em sua literatura, menos ele é deslindado, definido ou esclarecido. Em suma: o universo fabular de Clarice Lispector não admite explicação possível para a escuridão nem pensamento passível de dar conta do que quer que ela possa representar.
Daí que o propósito de esclarecer – caro a uma filosofia que se declara iluminista e se desdobra na dialética do esclarecimento – venha a ser uma espécie de avesso desse domínio sombrio que resiste a toda e qualquer claridade. Recorde-se que, já desde seus primórdios setecentistas, os iluministas europeus tomavam por base de ofício a definição atribuída a Denis Diderot para o verbete philosophe da grande Enciclopédia, que assim apresenta o pensador do chamado Século das Luzes: “il marche la nuit, mais il est précédé d’un flambeau” (DIDEROT/ENCYCLOPÉDIE, Vol. XII, p. 510). Ora, essa noite sempre iluminada pela chama que precede o filósofo, na qual a própria obscuridade se curva às ferramentas da razão, fornece uma antítese da escuridão clariciana, pois esta supõe um estado de conhecimento, se é que se pode assim dizer, de outro gênero e de outra magnitude. Assim, se seus personagens também costumam, a exemplo do pensador enciclopedista, caminhar em meio ao caos da noite, não se trata jamais para eles de iluminá-la, mas antes de serem por ela iluminados.
São vários os textos da escritora que desenvolvem essa concepção, quase sempre introduzida em tom francamente onírico. A começar do sonho relatado em “A geleia viva como placenta”, ele mesmo transcorrido numa “noite fechada”, cuja protagonista desesperada decide se matar saltando de um “terraço escuro com a boca úmida da coisa viva” e, súbito, depara com o desconhecido: “quando já estava com as pernas para fora do balcão, foi que vi os olhos do escuro. Não ‘olhos no escuro’: mas os olhos do escuro. O escuro me espiava com dois olhos grandes, separados. A escuridão, pois, também era viva. Aonde encontraria eu a morte?” (LISPECTOR, 2020, p. 2086)
A escuridão parece triunfar sobre a morte, ostentando uma vida própria que só se equipara com a infinitude.
Ainda na mesma galeria dos tipos que são vistos pelo escuro, cabe evocar o insólito fragmento intitulado “A noite mais perigosa”, em que uma voz suplicante pede para que se acredite nela, valendo-se de expressões cifradas que também sugerem a intenção de um suicídio. Ao dizer que “um rito fatal se cumpria” ali, no momento em que tentava explicar “o que os outros não entendem”, ela se embrenha em uma sinuosa narrativa:
[…] a sala de visitas estava escura – mas a música chamou para o centro da sala – uma coisa acordada estava ali – a sala se escureceu toda dentro da escuridão – eu estava nas trevas – senti que por mais escura a sala era clara – agasalhei-me no medo – como já agasalhei de ti em ti mesmo – que foi que encontrei? – nada senão que a sala escura enchia-se de uma claridade que não iluminava – e que eu tremia no centro dessa difícil luz – acredita em mim embora seja difícil de explicar (LISPECTOR, 2020, p. 2629).
Menos exasperante mas igualmente densa, a cena se repõe ainda em Perto do coração selvagem, quando Joana se aconchega “na cama silenciosa, flutuante na escuridão (…) como no ventre perdido e esquece. Tudo é vago, leve e mudo.” Para ela, “dormir era cada noite uma aventura, cair da claridade fácil em que vivia para o mesmo mistério, sombrio e fresco, atravessar a escuridão. Morrer e renascer”. Por isso, pouco antes de se encolher “dentro de si mesma, cheia de medo, daquele temor inconfessado das antigas noites sem chuva, na escuridão sem sono” (LISPECTOR, 2020, p. 51, 76, 100), ela se abandona a estranhos devaneios que, uma vez mais, sugerem uma forma de luz – melhor seria dizer de lucidez – que só é possível distinguir no mais espesso breu:
É necessário certo grau de cegueira para poder enxergar determinadas coisas. É essa talvez a marca do artista. Qualquer homem pode saber mais do que ele e raciocinar com segurança, segundo a verdade. Mas exatamente aquelas coisas escapam à luz acesa. Na escuridão tornam-se fosforescentes (LISPECTOR, 2020, p. 90).
Seres do caos, os suicidas, loucos, artistas e congêneres não raro se abandonam à “fosforescência” de noites sem forma nem duração quando partilham uma singular gramática do olhar sob uma luz intensa que nada ilumina. Ciente disso, a autora de A legião estrangeira se furta por completo a qualquer esclarecimento sobre a escuridão, sempre preferindo, quando a aborda, o recurso da alusão ao da revelação. Afinal, a se crer em Clarice, não há nada a ser revelado num lugar completamente privado de luz.
Seria o caso, então, de perguntar “para onde vai a luz quando se esconde”, como faz Maria Filomena Molder com grande propriedade. Em seu agudo ensaio sobre o tema, a pensadora lusitana observa que não se trata aí de uma pergunta sobre a invisibilidade, pois esconder sempre implica formas representativas agônicas – isto é, dramáticas – que reiteram, cada qual à sua maneira, o recorrente embate entre o dia e a noite. Daí sua menção a uma poderosa figura noturna apresentada na Ilíada como “domadora de deuses e de homens” que, por contemplar “a reunião inteira de todos os esconderijos, dos extremos aos íntimos”, também se introduz como um escuro que “olha para nós”.
Molder evoca o motivo em exemplos que dialogam em profundidade com as concepções de Clarice. Entre os antigos, ganham destaque as referências à mitologia grega, em particular aos deuses que inventaram um nome específico para um gênero muito especial de seres diurnos. Estes, chamados de “efêmeros”, eram responsáveis por vigiar e guardar a noite, “mesmo sentindo as forças a ceder logo que a luz se esconde”. A questão repercute no âmbito dos autores modernos, dentre os quais a comentadora escolhe o poeta português contemporâneo Manuel Gusmão, citando os notáveis versos de seu livro Teatros do tempo que se seguem:
Trata-se pois de se ter sentado procurando o olhar
o olhar da noite que o olha. Longamente o fita –
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Seria este o motivo light: o interruptor:
O que interrompe e fecha é o que abre e acende.
Dizes: alguém carregou no interruptor; o tempo
interrompeu-se e a noite olha o corpo do homem
que não espera nem desespera; está. (MOLDER, 2017, p. 13-15).
Ora, essa noite que olha – ou, para traduzir nos termos de Lispector: os grandes olhos do escuro – demarca sem dúvida os limites do conhecimento humano: como diz o poeta, aquele que é assim olhado, que não espera nem desespera, simplesmente está. Tal qual um ser que parece não ter qualquer dobra reflexiva, ele é puro corpo e pura presença, a habitar um presente absoluto, a exemplo de uma estátua imóvel e viva. Não causa surpresa que essa imagem, igualmente paradoxal, também apareça transfigurada no conto clariciano “A quinta história”, cuja narradora se vale de um “elixir da longa morte” para exterminar os repugnantes insetos que invadem a sua casa e dos quais ela se queixa sem cessar. Para dar conta do efeito do veneno, enquanto “o escuro dormia” ela atravessa “o silêncio do apartamento” e depara com os corpos inanimados das baratas que se assemelham a mortos-vivos:
E na escuridão da aurora, um arroxeado que distancia tudo, distingo a meus pés sombras e brancuras: dezenas de estátuas se espalham rígidas. As baratas que haviam endurecido de dentro para fora. Algumas de barriga para cima. Outras no meio de um gesto que não se completaria jamais. Na boca de umas um pouco da comida branca. Sou a primeira testemunha do alvorecer em Pompeia. Sei como foi esta última noite, sei da orgia no escuro. Em algumas o gesso terá endurecido tão lentamente como num processo vital, e elas, com movimentos cada vez mais penosos, terão sofregamente intensificado as alegrias da noite, tentando fugir de dentro de si mesmas. Até que de pedra se tornam, em espanto de inocência, e com tal, tal olhar de censura magoada (LISPECTOR, 2020, p. 1059).
As baratas liquidadas na calada da noite também olham, com espanto e terror, sua assassina. Uma estranha vida anima até mesmo as mais mumificadas, enquanto “uma ou outra antena de barata morta freme seca à brisa”, sancionando a acusação contra a “meticulosa e ardente” algoz que lhes devolve o olhar congelado (LISPECTOR, 2020, p. 1059). É também com espanto e terror, vale recordar, que os quatro jovens mascarados do conto “Mistério em São Cristóvão” se petrificam por um instante ao violarem um jardim encantado na madrugada carioca, como que tragados pelas “possibilidades que tem uma noite de maio”: “tudo no escuro era muda aproximação”, observa atônito o narrador, para completar: “caídos na cilada, eles se olhavam aterrorizados: fora saltada a natureza das coisas e as quatro figuras se espiavam de asas abertas. Paralisados, eles se espiavam.” (LISPECTOR, 2020, p. 3363)
Entre as diversas afinidades que se reconhecem em todas essas passagens, chama particular atenção o foco construído em torno do não saber: a rigor, as baratas e sua algoz, ou os jovens surpreendidos pelos arriscados imprevistos da madrugada, denunciam o mesmo mistério original e ancestral guardado pela figura altiva da domadora da Ilíada que empresta seus olhos à noite. A se crer nessas fabulações, a escuridão seria realmente um estado de suspensão do saber e talvez seja por essa razão que, no sentido figurativo, a maior parte dos dicionários correntes associa tal significante à “ausência de conhecimento”.
Tudo tenderia a confirmar que não há nada mesmo a ser revelado num lugar privado de luz, não fosse a exceção aberta por Clarice para aqueles seres que, tendo “certo grau de cegueira”, conseguem “enxergar determinadas coisas” em plena escuridão. Exceção significativa que remete a dois grupos de criaturas bastante distintas, que são de fato os verdadeiros habitantes do breu: de um lado, os profetas cegos, como Tirésias, Bartimeu e tantos outros apresentados em teologias e mitologias; de outro, os animais que vivem nas profundezas do mar, como os insólitos exemplares pelágicos.
Escusado lembrar que o cego é uma figura recorrente na literatura clariciana e, embora não seja nomeadamente identificado como profeta, vidente ou oráculo, no mais das vezes partilha com estes algum dom de adivinhação. Até mesmo uma criança míope, como o menino do conto “Miopia progressiva”, faz entender que uma simples deficiência visual pode dar acesso aos caminhos da vidência, já que, quanto menos vê, mais e mais ele entende: “Foi apenas como se ele tivesse tirado os óculos e a miopia mesmo é que o fizesse enxergar”. Afinal, “sem óculos, fitava o interlocutor com uma fixidez reverberada de cego” (LISPECTOR, 2020, p. 3431).
Caso exemplar nesse sentido é dado pelo personagem do conto “Amor”, que “mastigava goma na escuridão” quando é flagrado por Ana. Tal qual um prosaico adivinho, “sem sofrimento, com os olhos abertos”, basta sua presença para que a moça passe a ver precisamente aquilo que não lhe é dado ver, descobrindo o que estava coberto por interdições: nesse instante deflagrador, “o coração batia-lhe violento, espaçado. Inclinada, olhava o cego profundamente, como se olha o que não nos vê.” (LISPECTOR, 2020, p. 574, 3296) De fato, o estado da cegueira retorna com grande frequência nas páginas de Clarice, seja para remeter à própria “cegueira da escuridão”, seja para ressaltar a “leitosa e translúcida obscuridade”, como se lê em O lustre, sempre a reforçar a existência de uma potência luminosa do escuro que só os seres privados de visão conseguem divisar. Nesse sentido, ganham particular destaque as fabulações da autora sobre os “bichos da escuridão” (LISPECTOR, 2020, p. 172, 251).
“Que bichos?”, pergunta a protagonista de A maçã no escuro, para logo se responder com “uma obstinação de prazer”: “os bichos de que é feita a escuridão”. (LISPECTOR, 2020, p. 883). Se estes por vezes ganham aproximações um tanto bizarras – “os bibelôs luziam em claridade própria como animais das profundezas” (LISPECTOR, 2020, p. 447) – por outras são apenas associados aos bichos que saem “um por um da toca, protegidos pela suave possibilidade animal da noite” (LISPECTOR, 2020, p. 885). Sua aparição mais contundente, porém, se faz em A cidade sitiada, quando um personagem recorda que “os seres marinhos, quando não tocam o fundo do mar, se adaptam a uma vida flutuante ou pelágica”. A notação faz parte dos estudos do esquisito Perseu, em data registrada como “uma tarde de 15 de maio de 192…”. De pé junto da janela aberta, “cego e glorioso”, ele repete várias vezes, com “oca luminosidade”: “Os animais pelágicos se reproduzem com profusão”. E reitera outras tantas, acompanhado de perto pelo narrador que segue registrando: “‘Os animais e vegetais marinhos com profusão’, disse sem ímpeto mas sem freio porque este era o seu grau de luz. Não importa que na luz ele fosse tão cego como os outros na escuridão. A diferença é que ele estava na luz. ‘Flutuantes, falou’” (LISPECTOR, 2020, p. 413).
Não deixa de ser curiosa essa menção ao ecossistema pelágico – pelagos em latim significa o “mar aberto” –, por ser uma região oceânica habitada por seres vivos que, embora próximos dos fundos marinhos, deles não dependem. Trata-se de uma zona híbrida e indeterminada, localizada num intermédio que se inicia abaixo do espaço de influência das marés para se prolongar até o alto mar, em profundidades que variam desde algumas dezenas de metros até por volta de seis mil metros. Observe-se que, se as partes próximas da superfície recebem a luz do sol, as mais profundas abrigam um grande número de espécies adaptadas à escuridão, sendo que alguns de seus habitantes atendem pelo imponente nome de peixes abissais.
A referência de Clarice à zona pelágica talvez constitua a nota mais próxima do que seria sua definição de escuridão. Isso porque, se há algum elemento que ela vincula a tal estado, com certeza é a água. Trata-se, no mais das vezes, de uma escuridão líquida, cuja água quase sempre vem do mar. É o que os textos claricianos repetem à exaustão, valendo-se das mais diversas perspectivas para propor tal afinidade, a começar da frequente alusão a personagens que “flutuavam na escuridão” ou que “mergulhavam na escuridão da noite”. Ainda em O lustre, “a escuridão era salpicada de ruídos molhados”, assim como “estendia-se uniforme e quando o vento soprava os arbustos pareciam mover-se num mar” (LISPECTOR, 2020, p. 182, 195). As imagens noturnas relacionadas à água se desdobram em muitas direções, que passam tanto pelo coração, descrito como um “órgão banhado da escuridão da dor”, até uma sala que, à noite, “flutuava diante dos olhos vindos da escuridão” (LISPECTOR, 2020, p. 1743, 447).
Importa aqui realçar que, embora algo improvável, a aproximação entre os profetas cegos e os animais pelágicos pode surpreender por sua pertinência, justificada por uma afinidade maior: na qualidade de seres da escuridão, ambos têm em comum o conhecimento das profundezas. Os primeiros, por enxergarem o que está além do visível; os segundos, por nada divisarem além da própria obscuridade que os rodeia. A bem da verdade, uns e outros poderiam ser definidos nos mesmos termos de que se vale o narrador do conto “A menor mulher do mundo” quando descreve a inacessível pigmeia considerada “escura como um macaco” pelos que não enxergam sua humanidade: “não tendo outros recursos, [ela] estava reduzida à profundeza” (LISPECTOR, 2020, p. 609, 614).
Redução que, em todos esses casos, se furta por completo à claridade e impede qualquer identificação a olho nu. Aliás, a exemplo do que ocorre com os fundos marinhos, essa profundeza difusa e impenetrável nunca se revela a quem divisa seus domínios do lado de fora, uma vez que conhecê-la exige a completa imersão na opacidade do desconhecido. É o que se confirma na passagem do texto “Como uma corça” que descreve Eremita, outra personagem definitivamente associada aos recônditos mais profundos da existência: “Mas ninguém encontraria nada se descesse às suas profundezas – senão a própria profundeza, como na escuridão se acha a escuridão” (LISPECTOR, 2020, p. 1642).
Esboça-se aí, talvez, o sentido mais conclusivo da autora de A descoberta do mundo sobre a insondável escuridão, que reaparece discretamente em outros poucos escritos, sempre envolvidos por certo hermetismo, como é o caso das passagens de A maçã no escuro: “a escuridão procura a escuridão”, ou “a luz dos olhos do cão na escuridão do cão”, ou “se um homem tocasse uma vez a escuridão, oferecendo-lhe em troca a própria escuridão…” (LISPECTOR, 2020, p. 882, 913, 771), ou ainda da breve e decisiva anotação da escritora datada de 1968: “E a escuridão toda escura” (LISPECTOR, 1984, p. 81). A escuridão é um labirinto fechado, sem entrada nem saída: não estranha, pois, que o significante oco lhe caiba tão bem, por projetar um vão em forma de palíndromo que não tem começo nem fim. 1
A se crer em Clarice Lispector, a escuridão não tem dobra alguma, não se reflete em espelho algum e nem ao menos reconhece a existência de qualquer alteridade, pois é ela a absoluta alteridade. Dentro dela só há mesmo escuridão – um oco de onde pode brotar toda criação.
- Agradeço essa e outras sugestões à Yudith Rosenbaum.[↩]