Livros que você talvez não imagine que Clarice tinha

, Livros que você talvez não imagine que Clarice tinha. IMS Clarice Lispector, 2013. Disponível em: https://site.claricelispector.ims.com.br/2013/04/19/livros-que-voce-talvez-nao-imagine-que-clarice-tinha/. Acesso em: 19 novembro 2024.

“Qual é o meu futuro de um modo geral?”, pergunta Clarice ao I Ching.
(foto de Madalena Schwartz/Acervo IMS)

Quando pensamos nos livros que formam a biblioteca de um escritor, imaginamos em primeiro lugar obras que o tenham influenciado como autor, ou que ao menos dialoguem com sua produção ficcional. Ao especular sobre como seria a estante de livros de Clarice Lispector, um leitor poderia supor a presença de romances de Virginia Woolf, contos de Katherine Mansfield… e, de fato, na biblioteca de Clarice, que está no Acervo do IMS, as duas modernistas marcam presença.

Inesperado é encontrar várias obras de temática budista, como Introdução ao zen-budismo, O zen e o infinito e O livro tibetano dos mortos. O interesse da autora pela filosofia oriental fica evidente ao manusearmos seu exemplar do I Ching, “o livro das mutações”, texto chinês clássico que, entre outras coisas, também serve de oráculo.

Clarice deixou vários papéis com rascunhos para cálculos de respostas fornecidas pelo I Ching. Algumas das perguntas estão rabiscadas, como “Qual é o meu futuro de um modo geral?” Curiosamente, esse questionamento está numa folha de agenda datada de 10 de dezembro de 1974, aniversário de 54 anos da autora.

Também não se imaginaria Lispector comprando o guia nutricional Let’s eat right to keep fit [Vamos comer bem e manter a forma], de Adelle Davis, ou o guia de exercícios Exercise and keep fit [Exercite-se e fique em forma], de Terry Hunt.

I Ching


Além dessas curiosidades, temos dois livros com estilos muito diferentes do exercido por Lispector: Contos, de Ernest Hemingway, conhecido pelo estilo seco e fiel à linha “escrever é cortar palavras”, e Almoço dos campeões, de Kurt Vonnegut, um romance hilário, escrito num estilo simples definido pelo próprio autor como “escrever como uma criança escreveria”.

Revelando interesses mais idiossincráticos da autora, temos Fun with mathematics [Divertindo-se com a matemática], de Jerome S. Meyer, e Ten perfect crimes [Dez crimes perfeitos], de Hank Sterling, que apresenta casos verídicos de crimes particularmente engenhosos. Este último talvez não seja assim tão estranho, considerando que faz companhia a muitas obras de ficção policial na diversificadíssima e inusitada biblioteca de Clarice Lispector.

* Antônio Xerxenesky é escritor.

Notas