, Hora de Clarice 2016. IMS Clarice Lispector, 2017. Disponível em: https://site.claricelispector.ims.com.br/2017/01/16/hora-de-clarice-2016/. Acesso em: 05 dezembro 2025.
Celebrado na Argentina, Nova York e Paris, o Hora de Clarice 2016, organizado pelo Instituto Moreira Salles, dividiu-se no último ano entre o tema epistolar e o da tradução.
A obra de Clarice Lispector tem se consolidado por meio de recentes traduções para o francês, espanhol, grego, e, sobretudo, para o inglês. É bem verdade que a publicação de todos os contos na edição única The Complete Stories, incluída na lista de melhores livros do New York Times, provocou uma nova onda de leitores ou curiosos. A transposição árdua e, ao mesmo tempo, delicada das histórias claricianas em português para o inglês ficou sob responsabilidade de Katrina Dodson – cujo empenho foi reconhecido e vencedor do Pen Translation Prize.
Um pouco mais do trabalho de tradução pôde ser conhecido no dia 10 de dezembro de 2016, com um bate-papo entre Katrina Dodson e Paloma Vidal, poeta e professora brasileira que traduziu e prefaciou Un soplo de vida (Um sopro de vida) e La legión extranjera (A legião estrangeira), publicados pela editora argentina Corregidor em 2010 e 2011.
Na segunda parte da celebração, o Hora de Clarice se deteve no farto conjunto de afetuosas cartas enviadas por Clarice às irmãs, Tania Kaufman e Elisa Lispector, no período em que esteve fora do Brasil. A partir da seleção desse conjunto de mais de 150 itens, sob a guarda do IMS, dirigidas por Bruno Lara Resende, às 18h30, as atrizes Georgiana Góes, Gisele Fróes e Raquel Iantas fizeram uma leitura de cartas – estão ali temas como a dificuldade de publicação de seu segundo romance, O lustre, a dinâmica do casamento, o término da segunda guerra mundial e o nascimento dos dois filhos, Pedro e Paulo.
Ambos os eventos podem ser conferidos integralmente logo abaixo:
Palestras com as tradutoras Paloma Vidal e Katrina Dodson no IMS
Leitura de cartas de Clarice Lispector às irmãs, Tania e Elisa Lispector
Tornou-se lugar comum dizer que a escrita de Clarice busca ultrapassar o limite da linguagem, que a autora nomeia como “it”, “núcleo”, “objeto”, “coisa”, “indizível”, “silêncio”
O lustre, segundo romance de Clarice Lispector, publicado em 1946, ganhou recente tradução para o inglês, realizada por Benjamin Moser e Magdalena Edwards.
No dia 10 de dezembro, o IMS Rio celebra o dia do nascimento de Clarice Lispector. Neste ano, iremos apresentar, em única exibição, às 18hs, o filme curta-metragem Perto de Clarice, de João Carlos Horta, de 1982, em nova versão digitalizada, a partir do original em 35mm preservado pelo Centro Técnico Audiovisual (CTAv). Após a exibição do filme, haverá uma conversa entre a escritora Heloisa Buarque de Holanda, que esteve envolvida na realização do filme e é viúva do diretor, e Teresa Montero, autora da mais recente biografia da escritora, À procura da própria coisa (Rocco, 2021), intermediada pelo consultor de literatura do IMS, o poeta Eucanaã Ferraz.
Na década de 1960, o espanhol Jaime Vilaseca era marceneiro no Rio de Janeiro, até que um encontro com Clarice Lispector mudou sua vida. A escritora encomendara a ele uma estante de livros, que foi feita e montada em seu apartamento, no bairro do Leme. Durante aqueles dias, silenciosamente, observara-o trabalhando e, terminado o móvel, olhou para ele e disse: "Você vai ser moldureiro. Não vai escapar ao seu destino!".
A frequente alusão às empregadas domésticas no ambiente urbano de suas crônicas demonstra o que é uma realidade para várias famílias de classe média no país: incorporada ao ambiente íntimo da casa na condição de um “outro domesticado”, a empregada doméstica constitui a relação mais duradoura, e pessoal, que um membro da classe média se permite estabelecer com a pobreza.
Benjamin Moser, um dos mais importante biógrafos de Clarice Lispector, declarou numa entrevista que uma de suas ambições ao escrever Why This World, publicado nos Estados Unidos e traduzido como Clarice, uma Biografia, era o de promover um espaço ao questionamento de um tema muito pouco trabalhado por críticos literários, comentadores e biógrafos – a “judeidade” da escritora. Isso porque a grande maioria deles se limita à refletir sobre o tema da brasilidade, “como se fosse preciso escolher, entre ser judia e ser brasileira”.