, Gratidão à máquina. IMS Clarice Lispector, 2017. Disponível em: https://site.claricelispector.ims.com.br/2017/10/09/gratidao-a-maquina/. Acesso em: 13 dezembro 2025.
Quando sequer pensávamos que hashtag gratidão seria um dos termos que remeteriam a dois fortes traços do futuro (o compartilhamento em rede e a nova onda hippie dos jovens pura gratidão), Clarice, profética, publicou em janeiro de 1968 o breve texto “Gratidão à máquina”, no Jornal do Brasil.
Entre demonizar a tecnologia disponível naquele período (“Não me sinto mecanizada por usar máquina”) e aderir à tendência, Clarice, com simpatia, escolhe a segunda.
A autora, que chegou a escrever “umas oito cópias” de A maçã no escuro, romance que seria publicado em 1961, alternava entre os modelos Underwood e Olympia. O hábito de bater à máquina passou a ser adotado sobretudo no período em que, com dois filhos pequenos, morou nos Estados Unidos. Para os que amam o fetiche, haverá uma terceira máquina da escritora, uma Olivetti, que pode ser vista hoje no acervo da Fundação Casa de Rui Barbosa.
Uso uma máquina de escrever portátil Olympia que é leve bastante para o meu estranho hábito: o de escrever com a máquina no colo.
Corre bem, corre suave. Ela me transmite, sem eu ter que me enredar no emaranhado de minha letra. Por assim dizer provoca meus sentimentos e pensamentos. E ajuda-me como uma pessoa. E não me sinto mecanizada por usar máquina. Inclusive parece captar sutilezas. Além de que através dela, sai logo impresso o que escrevo, o que me torna mais objetiva. O ruído baixo do seu teclado acompanha discretamente a solidão de quem escreve. Eu gostaria de dar um presente à minha máquina, mas o que se pode dar a uma coisa que modestamente se mantém como coisa, sem a pretensão de se tornar humana? Essa tendência atual de elogiar as pessoas dizendo que são ‘muito humanas’ está me cansando. Em geral esse ‘humano’ está querendo dizer ‘bonzinho’, ‘afável’, senão ‘meloso’. E é isso tudo o que a máquina não tem. Sequer vontade de se tornar um robô sinto nela. Mantêm-se na sua função, e satisfeita.
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