Caderno 46

Lisboa, dia 8 de agosto de 1944 / Que coisa desagradável, desagradável, desagradável. Ribeiro Couto jantou comigo na casa dele, já pela segunda ou terceira vez. Não vi nada demais nisso, ele me tratava como camarada, e eu até ficava com medo que ele estivesse saindo comigo de má vontade, só por dever de ser delicado. Fez duas poesias sobre mim, e disse que fez muitas outras por causa de mim. Que há muito tempo isso não sucedia. Que ele ia sentir minha falta. Que eu era estranha e curiosa. Mil vezes, a propósito de tudo, me dizia como ele era discreto, como o principal era a reputação. Que o fato de eu ter ido à casa dele, aos olhos dos outros, era como se eu tivesse dormido com ele. Por isso era melhor não dizer a ninguém. E hoje me fez fazer um papel chatíssimo, obrigando-me a fingir que era uma americana, para um amigo dele, “defendendo minha reputação”. Que nojo, que cansaço. Já há dias notava que ele se