Caderno 47

aproximava um pouco de mim. Hoje andou de braço comigo – tão desagradável meu papel. E depois, enquanto na feira esperávamos a roda, segurou-me em mão, procurou encostar não na fazenda mas no pulso. Retirei-a discretamente. Disse que sou complicada e austera, que é horrível que ele se sinta atraído por pessoas diferentes dele. Que poderia ficar comigo três dias sem parar até eu morrer de cansaço. Eu já previra indistinta [a] isso, mas ele insistiu tanto para dançarmos. No carro, segurou minha mão, beijou-a muitas vezes, encostou-a ao rosto. Eu fiquei fria de aborrecimento. Eu disse: que explosão. Ele disse: só interna e mais coisas. Que ele não tinha dormido por minha causa (ele tinha antes contado apenas a insônia). Depois de outras tentativas, que eu repelia vexada, ele disse que sentia muita ternura por minha vida, uma vida difícil. Depois viu mesmo o meu silêncio, e disse: mais tarde você vai ver, vou me vingar. Eu disse: como?! Ele disse: sem gestos