, 50 anos de O mistério do coelho pensante. IMS Clarice Lispector, 2017. Disponível em: https://site.claricelispector.ims.com.br/2017/06/26/50-anos-de-o-misterio-do-coelho-pensante/. Acesso em: 21 dezembro 2024.
Escrita nos anos 1950, durante o período em que morou em Washington, O mistério do coelho pensante foi a primeira obra destinada a crianças escrita por Clarice Lispector. A partir de uma pergunta de seu filho Paulo – “Por que você só escreve livros para adultos? Nenhum para crianças?” – o texto, inicialmente sem propósito de lançamento, foi escrito em inglês e engavetado até que em 1967 foi publicado pelo José Álvaro.
O narrador, em O mistério do coelho pensante, denomina-se Paulo, o que evoca o nome do filho de Clarice e vai estreitar os laços de proximidade com o leitor, já que a narrativa constrói-se como uma conversa íntima, em que aquele que escuta/lê é acionado constantemente.
O enredo centra-se no coelho Joãozinho, que cheirava ideias, e inventa uma maneira de sair de sua jaula quando não há comida. Os humanos percebem e não deixam de dar-lhe alimento. No entanto, o coelho deseja muito mais do que os humanos lhe oferecem, e sua vida passa a ser “comer bem e fugir, e sempre de coração batendo”. Mais do que pela aventura, o coelho tomara gosto pela liberdade, e é fora da jaula que ele consegue realmente ser um coelho pensante.
Segundo Rosa Gens, “a poética clariciana evidencia-se no enredo fluido, nas dúvidas e nos questionamentos, na presença de uma narradora que está sempre junto ao seu leitor e diz não conhecer algumas respostas, deixando a dúvida se prolongar. Narrativas de mistério, comumente, conduzem o leitor a investigar pistas, elaborar soluções, resolver enigmas. Na escrita de Clarice Lispector, o mistério é diferente. Não se trata de enigma relacionado a fatos, apenas à possibilidade de brincar de ser coelho, de colocar-se na pele de um outro, de pensar de diferentes ângulos. No texto, que enfatiza a fantasia e a imaginação, brincar e pensar dão o tom, e a contaminação entre coelho e humano, enfatizada no final da narrativa, abre espaço para o maravilhoso”.
Um livro só pra quem gosta de coelhos, segundo Clarice Lispector, que pede ainda aos adultos um pouco de paciência e compreensão para as muitas perguntas que não poderão responder em termos de coelho.