, O fator Clarice. IMS Clarice Lispector, 2017. Disponível em: https://site.claricelispector.ims.com.br/2017/03/20/o-fator-clarice/. Acesso em: 27 julho 2024.
O Instituto Moreira Salles, em parceria com o Departamento de Humanidades da Universidade de Columbia, divulga o seminário internacional The Clarice factor: aesthetics, gender, and diaspora in Brazil (O fator Clarice: estética, gênero e diáspora no Brasil), que acontecerá nos próximos dias 23 (quinta-feira), 24 (sexta-feira) e 29 (quarta-feira) de março, na Casa Hispánica em Nova York.
O marco inaugural da colaboração entre o IMS e a Columbia University começou em dezembro de 2015 com o colóquio Brasil: cruzamento global, na sede do Instituto, no Rio de Janeiro, que reuniu pesquisadores daquela universidade, professores e especialistas brasileiros, além dos coordenadores de acervo do IMS, em discussões multidisciplinares sobre o processo de modernização do Brasil.
A partir dali, se estreitaram as relações entre as instituições que anunciam o novo evento organizado por Ana Paulina Lee e Graziela Montaldo, do Departamento de Culturas Ibérica e Latino-americana, da Columbia, e pela Coordenação de Pesquisa do IMS.
Totalmente dedicadas a discussões sobre a escrita clariciana como perfomance, forma, som e matéria, as mesas estarão concentradas, sobretudo, no dia 24 com a participação de professores-pesquisadores de diversas universidades. Entre os convidados do IMS estão Carlos Mendes de Sousa, Vilma Arêas (Unicamp) e Yudith Rosenbaum (USP). Estão confirmados também Katrina Dodson, premiada tradutora da edição de Complete stories, e o argentino Gabriel Giorgi, professor associado na Universidade de Nova York.
O evento contará ainda com a instalação Edge of nothing da diretora teatral Dara Malina, que em 2015 já havia adaptado A hora da estrela para o teatro na mesma universidade.
No dia 10 de dezembro, o IMS Rio celebra o dia do nascimento de Clarice Lispector. Neste ano, iremos apresentar, em única exibição, às 18hs, o filme curta-metragem Perto de Clarice, de João Carlos Horta, de 1982, em nova versão digitalizada, a partir do original em 35mm preservado pelo Centro Técnico Audiovisual (CTAv). Após a exibição do filme, haverá uma conversa entre a escritora Heloisa Buarque de Holanda, que esteve envolvida na realização do filme e é viúva do diretor, e Teresa Montero, autora da mais recente biografia da escritora, À procura da própria coisa (Rocco, 2021), intermediada pelo consultor de literatura do IMS, o poeta Eucanaã Ferraz.
Correio para mulheres, organizado por Aparecida Maria Nunes, reúne textos de Clarice Lispector para o público feminino, escritos em três momentos distintos da carreira da escritora.
A consistência destas imagens é aquela da árvore, matéria vegetal, a madeira sendo o suporte destas duas pinturas. Num dos quadros as linhas verticais visivelmente seguem os desenhos oferecidos pela madeira, e criam uma espacialidade flácida e dura ao mesmo tempo.
O filme retrata o célebre Ulisses, cachorro de Clarice Lispector e personagem de destaque em sua vida e ficção. Ele está presente no romance póstumo Um sopro de vida, é o narrador do livro infantil Quase de verdade, foi citado em inúmeras crônicas e hoje está imortalizado, ao lado de sua dona, em uma estátua de bronze na amurada da praia do Leme, no Rio de Janeiro.
Em 1970, Clarice Lispector começou a escrever a obra que viria a ser chamada de Água viva.Publicado no final de agosto de 1973 pela Artenova, reproduz-se a seguir um manuscrito
Seria possível dizer de Clarice Lispector que sua finura lembra Virginia Woolf – que parece ser, realmente, a sua mais forte influência. Mas o que me surpreende e me encanta, principalmente...
, Uma crítica selvagem para Perto do coração. IMS Clarice Lispector, 2017. Disponível em: https://site.claricelispector.ims.com.br/2017/03/03/uma-critica-selvagem-para-perto-do-coracao/. Acesso em: 27 julho 2024.
É final de 1943. Sai por uma editora de parca relevância cultural, A Noite, o inusitado Perto do coração selvagem, livro de uma autora de 22 anos incompletos, ex-funcionária da casa. Dois dos principais críticos da época, Álvaro Lins e Otto Maria Carpeaux, tiveram, anteriormente, acesso aos manuscritos desse romance. Tanto o editor da prestigiosa José Olympio quanto Carpeaux desaconselharam seu lançamento. Contrariando essas opiniões, o livro sai com uma tiragem de mil cópias (esgotadas em junho do ano seguinte). A autora não ganha muita coisa, além de cem exemplares para distribuir entre amigos e família.
Lins, como um dos mais respeitados críticos e também editor chefe do Correio da Manhã, publicará no dia 11 de fevereiro de 1944 por este periódico o artigo “Romance lírico”, no qual se dedicará a Perto do coração selvagem e a essa desconhecida, Clarice Lispector.
Os argumentos usados pelo crítico lidos a partir de hoje garante uma leitura se por um lado absurda ao usar como critério o gênero feminino em oposição ao masculino para justificar muitos aspectos da obra, por outro lado, não deixa de ser divertida.
Uma característica da literatura feminina é a presença muito visível e ostensiva da personalidade da autora logo no primeiro plano. É certo que, de modo geral, toda obra literária deve ser a expressão, a revelação de uma personalidade. Há, porém, nos temperamentos masculinos, uma maior tendência para fazer do autor uma figura escondida por detrás das suas criações (…). Logo se vê que as mulheres estão inclinadas de modo especial para essas formas literárias que permitem projeções mais diretas e sensíveis das suas personalidades.
Álvaro Lins vai situar o romance dentro da vertente lírica, “a descoberta de um novo mundo psicológico, (…) essa espécie de aventura, de exploração através de terrenos até então inexplorados das paixões humanas”, selecionando como exemplar a literatura produzida por Proust, James Joyce e Virginia Woolf.
E a obra da aventura poética e psicológica, mais do que qualquer outra, é o moderno romance inglês, no qual se encontram algumas escritoras como figuras das mais representativas. E a união do lirismo com o realismo, do sentimento poético com a capacidade de observação – é que retira do moderno romance poético a sua tendência para o pieguismo e para a visão cor de rosa da vida. (…) Não há contradição entre o lirismo e a visão aguda do mundo, uma visão que, às vezes, chega a ser pungente e cruel. Um exemplo deste efeito surpreendente, surgido na ficção pelo entrelaçamento do lirismo com o realismo, está na obra de Virginia Woolf.
E dentro dessa tradição, “Não tenho receio em afirmar, no entanto”, diz o crítico, “que o livro da sra. Clarisse Lispector (sic) é a primeira experiência definida que se faz no Brasil do moderno romance lírico”, conjugando a técnica do autor de Ulisses com o “temperamento feminino”.
Embora reconheça que Perto do coração selvagem “provoca desde logo uma surpresa perturbadora. A surpresa das coisas que são realmente novas e originais”, Lins termina o artigo dando o romance como incompleto, “cheio de imagens, mas sem unidade íntima. Aqui estão pedaços de um grande romance, mas não o grande romance que a autora, sem dúvida, poderá escrever mais tarde”.
Clarice, recém-casada e morando em Belém, escreve à irmã Tânia Kaufmann, em 16 de fevereiro – isto é, cinco dias depois da publicação deste artigo: “As críticas não me fazem bem. A do Álvaro Lins (…) me abateu e isso foi bom de certo modo. Escrevi para ele dizendo que não conhecia Joyce nem Virginia Woolf nem Proust quando fiz o livro, porque o diabo do homem só faltou me chamar ‘representante comercial’ deles”. Mas a carta um tanto aborrecida não foi, afinal, enviada.
Com ânimos menos exaltados, a própria Clarice revê a crítica e diz em nova missiva do dia 23: “eu não escrevi ao Álvaro Lins dizendo aquilo sobre o romance não ser o ‘meu romance’ porque não interpretei a crítica dele assim”.
A essa altura, porém, não sabiam, nem Álvaro Lins, nem Clarice, que em outubro daquele mesmo ano Perto do coração selvagem receberia o prêmio Graça Aranha, cujo principal critério de escolha era por livros de estreia “com acentuado caráter de originalidade”.
A Manhã, 13 de outubro de 1943/Hemeroteca digital
A Fundação já tinha prestigiado as estreias de Rachel de Queiroz, Erico Verissimo, Jorge de Lima, Murilo Mendes, dentre outros. Mais à frente, na coluna “Livros do dia – dois minutos no país das letras”, entre várias pequenas notícias literárias, um destaque quase profético assinado por um desconhecido J.B.: “(…) A Fundação Graça Aranha concede o prêmio tão ambicionado à maior estreia feminina de todos os tempos na literatura brasileira. Clarice Lispector, autora de Perto do coração selvagem, com o seu livro belo, é laureada, e nunca houve tanta justiça na concessão de um prêmio literário”.
Todo ano, após o Carnaval, tem início a Quaresma, período em que os fiéis se retiram da vida mundana para se dedicar a sacrifícios, caridades e orações.
Escrita nos anos 1950, durante o período em que morou em Washington, O mistério do coelho pensante foi a primeira obra destinada a crianças escrita por Clarice Lispector
Eu morri. Descobri isso quando, um dia, na calçada da Praça Maciel Pinheiro, ergui a cabeça, abri os olhos e avistei-me morto, ali, na calçada da praça, o sobrado do outro lado da rua. Meu coração despedaçado dentro do peito, o sobrado da rua do Aragão, 387, onde, no segundo andar, Clarice Lispector viveu uma infância feliz, aqui no Recife, apesar das dores do mundo e de viver e sentir, principalmente, as dores de uma doença implacável que um dia arrancaria Mania, a sua mãe, de perto de si.
Tornou-se lugar comum dizer que a escrita de Clarice busca ultrapassar o limite da linguagem, que a autora nomeia como “it”, “núcleo”, “objeto”, “coisa”, “indizível”, “silêncio”
O texto a seguir nasceu a partir de uma pesquisa da correspondência entre Clarice Lispector e suas irmãs Tania Kauffman e Elisa Lispector, sob a guarda do IMS
Existe um aspecto dos escritos claricianos que é – parece-nos – menos observado. Trata-se da sensibilidade social e política da escritora. [...] Clarice deixa perceber em seus escritos – romances, crônicas ou contos – uma verdadeira abertura ao outro e sua diferença e sobretudo sua vulnerabilidade.